sexta-feira, 15 de junho de 2012

O menino que mora algumas ruas depois de mim.


Lembro das vezes em que você descia a minha tua olhando para a varanda da minha casa a procura de algo. E quando eu não estava fofocando no telefone, estava andando de um lado para o outro. Minha varanda é pequenina, mas eu adoro ficar lá para pensar na vida, e todas as vezes que você passava, era como se eu sentisse sua presença. Ao me ver, você automaticamente sorria, e o teu sorriso é tão lindo que me fazia querer sorrir de volta.  Mas talvez, um sorriso pudesse te fazer pensar que estava flertando com você, e não queria que pensasse que sou garota fácil. Não, claro que não. Não queria estragar o que sequer começou. Algumas semanas depois, percebi que você costumava passar em frente a minha porta três vezes na semana, entre ás 15 e 17 horas, então eu passei a te esperar.
 Você conhecia o meu irmão e o chamava de cunhado. E não, eu sequer sabia o seu nome. Nos aproximamos desde que seu irmão faleceu, e eu nunca disse, mas sinto muito. Lembra do dia em que nos encontramos na padaria que fica no final da minha rua? Eu não falei nada. Não tive coragem de sequer perguntar se você estava bem — porque eu sabia que não e que iria mentir para evitar comentar sobre o assunto —, então eu preferi não tocar em uma ferida que permanecerá aberta para sempre. Quer falar disso agora? Não? Tudo bem, mas se quiser, pode me ligar, aparecer aqui em casa... Sou expert em partidas, as pessoas vivem me deixando. É diferente, mas to disposta a ajudar. Não quer falar? Você pode chorar também. Chorar não é vergonha, não é? Então só fica ai quietinho. Já disse que gosto da sua companhia? É, eu gosto. Porque eu gosto de você? Gosto porque você me abraça apertado até sentir o gosto da minha dor prazerosa ao ouvir o último ossinho das minhas costas estalarem. Você é lindo, sabia? E você sabe me olhar. Não, isso soou meio lógico e tosco. Tá certo, você que não entendeu o que quis dizer. Você me olha nos olhos, e no máximo até a altura do meu cordão se perguntando quem foi o remetente. Você elogia o meu cabelo e diz que meu sorrio é lindo. Você me olha de cinco em cinco minutos e me manda beijo. E você, menino que mora algumas ruas depois de mim, tem a cara de safado que me faz te gostar ainda mais.
Ei, chega aqui. Não sei nada sobre você; Sei algumas coisas. Não, não sei, apenas acho que sei. Me conte... Qual a sua cor predileta? Você é tímido assim ou está triste? Ah, e obrigada por pagar o meu açaí naquele dia. Você é tão doce, e um doce que não enjoa. Fica aqui comigo, fica. Eu não te conheço bem, mas seu beijo é tão tão tão tão tão tão viciante. Deixa eu te apresentar para os meus pais? Isso mesmo... Quer me namorar? Você só mora algumas ruas depois de mim. Olá vizinho. Eu já tive uma queda pelo meu vizinho, mas ele nunca me deu bola. Vai que dessa vez dá certo com você... Não, eu não sei seu sobrenome, mas quero tê-lo depois do meu!

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