Lembro das vezes em que você descia
a minha tua olhando para a varanda da minha casa a procura de algo. E quando eu
não estava fofocando no telefone, estava andando de um lado para o outro. Minha
varanda é pequenina, mas eu adoro ficar lá para pensar na vida, e todas as
vezes que você passava, era como se eu sentisse sua presença. Ao me ver, você automaticamente
sorria, e o teu sorriso é tão lindo que me fazia querer sorrir de volta. Mas talvez, um sorriso pudesse te fazer
pensar que estava flertando com você, e não queria que pensasse que sou garota
fácil. Não, claro que não. Não queria estragar o que sequer começou. Algumas
semanas depois, percebi que você costumava passar em frente a minha porta três
vezes na semana, entre ás 15 e 17 horas, então eu passei a te esperar.
Você conhecia o meu irmão e o chamava de
cunhado. E não, eu sequer sabia o seu nome. Nos aproximamos desde que seu irmão
faleceu, e eu nunca disse, mas sinto muito. Lembra do dia em que nos
encontramos na padaria que fica no final da minha rua? Eu não falei nada. Não
tive coragem de sequer perguntar se você estava bem — porque eu sabia que não e
que iria mentir para evitar comentar sobre o assunto —, então eu preferi não
tocar em uma ferida que permanecerá aberta para sempre. Quer falar disso agora?
Não? Tudo bem, mas se quiser, pode me ligar, aparecer aqui em casa... Sou
expert em partidas, as pessoas vivem me deixando. É diferente, mas to disposta
a ajudar. Não quer falar? Você pode chorar também. Chorar não é vergonha, não é?
Então só fica ai quietinho. Já disse que gosto da sua companhia? É, eu gosto.
Porque eu gosto de você? Gosto porque você me abraça apertado até sentir o
gosto da minha dor prazerosa ao ouvir o último ossinho das minhas costas
estalarem. Você é lindo, sabia? E você sabe me olhar. Não, isso soou meio
lógico e tosco. Tá certo, você que não entendeu o que quis dizer. Você me olha
nos olhos, e no máximo até a altura do meu cordão se perguntando quem foi o
remetente. Você elogia o meu cabelo e diz que meu sorrio é lindo. Você me olha
de cinco em cinco minutos e me manda beijo. E você, menino que mora algumas
ruas depois de mim, tem a cara de safado que me faz te gostar ainda mais.
Ei, chega aqui. Não sei nada sobre
você; Sei algumas coisas. Não, não sei, apenas acho que sei. Me conte... Qual a
sua cor predileta? Você é tímido assim ou está triste? Ah, e obrigada por pagar
o meu açaí naquele dia. Você é tão doce, e um doce que não enjoa. Fica aqui
comigo, fica. Eu não te conheço bem, mas seu beijo é tão tão tão tão tão tão
viciante. Deixa eu te apresentar para os meus pais? Isso mesmo... Quer me
namorar? Você só mora algumas ruas depois de mim. Olá vizinho. Eu já tive uma
queda pelo meu vizinho, mas ele nunca me deu bola. Vai que dessa vez dá certo
com você... Não, eu não sei seu sobrenome, mas quero tê-lo depois do meu!
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