quinta-feira, 14 de junho de 2012

Duas colheres de sopa de desapego.


Pode gritar o quanto quiser, desligar na minha cara se eu ligar, me xingar, fazer qualquer demonstração de raiva ou indignação, eu espero. Acabou? Ainda não? Ok. E agora? Sei muito bem o que disse, mas não fui sozinha comprar aquele lanche na sexta á noite. Eu menti e agora você já sabe. Com quem eu estava? Há quanto tempo estamos saindo? Que diferença faria saber alguma coisa? Tudo bem, agora você já descobriu que tem outra pessoa. O que mais quer saber? Quer que eu continue as cenas e todas as falas sem esquecer um detalhe sequer? Você deve estar se perguntando por que menti. Eu menti porque, ah sei lá, seria estranho contar á você que conheci uma pessoa e que íamos sair para lanchar em uma sexta-feira tediosa. Foi isso mesmo, sai para lanchar. Esse foi o motivo pelo qual não atendi seu telefonema. Deixei meu celular na casa de uma amiga. Ela que me apresentou á ele. E não, não como um futuro-qualquer-coisa-parecido-como-um-namorado. Menti porque você iria materializar mil e uma fantasia e paranóia na cabeça e relembrar histórias do passado para comparar em um acontecimento tão simples como sair para lanchar com um amigo. Não imagine coisas insanas, por favor. Menti porque sei muito bem como você é. Queria evitar a tragédia que está acontecendo agora e mais algumas acusações e argumentos infantis. Mas o que você realmente quer saber? Já sei... Quer saber o que aconteceu? Irei lhe contar. E por falta de tempo irei resumir tudo em duas notícias. Uma: não rolou nada entre a gente. Respirou aliviado, não é? Então prepare-se. Sente nesse sofá e respire fundo. A outra notícia — que mais vai parecer como um soco no estômago, falta de ar e um nó impossível de desatar na garganta, mas que eu preciso contar —, é que... Eu gosto da companhia dele. Ele tem cheiro de menino bom, e também se interessa pelas mesmas coisas que eu. Escreve poesia, ama café e adora falar sobre família e política.
Enquanto conversávamos sobre alguns escritores antigos, descobri que ele adora ler Clarice e teve dificuldade em português na escola e bem... Você não quer saber disso. Perdi o foco, desculpa ai. Entenda... Para você isso foi à gota d’água, o estopim, enquanto para mim foi uma porra de um lanche com um amigo. Simples. Meu único erro cometido foi mentir dizendo que estava sozinha. É claro que você quer saber se senti vontade de beijá-lo, se ele flertou comigo, se me levou no portão de casa, se marcamos outro lanche... “Se”, “e se”. Serei honesta dizendo que tenho todas as respostas para suas indagações mentais, mas você não vai gostar nem um pouco e isso não vai nos levar a lugar nenhum. Ele não é uma pedra em nosso — se é que posso nos colocar em um plural — caminho; é a penas mais uma maneira de fazer nossa fica cair que já não somo mais o casal maravilha de antes. Você tem seus novos amigos, novas vontades e desejos que só me imagino realizando daqui a pelo menos cinco ou seis anos. Beleza, isso pode soar um pouco dramático, mas é como me sinto. Você me esqueceu em um cantinho qualquer de uma sala vazia e pintada de bege claro. Talvez você tenha mil e um argumentos para dizer sobre cada palavra minha dita e blá blá blá. Estamos distantes. Convivemos com outras pessoas e consecutivamente, outros cheiros, gostos, palavras, atitudes... Ela vai ter algo melhor que eu, e vice-versa. Sequer temos amigos em comum!
A verdade é que sinto falta de um domingo assistindo futebol e falando besteiras. Não, não estou jogando a culpa em cima de você, mas também não estou assumindo. As coisas mudaram. A estação é outra. Os assuntos não são mais os mesmos. Tudo mudou e nós ficamos. Nosso maior erro é tentar recomeçar a mesma história a cada ponto final escrito. É difícil falar, e ainda mais difícil ouvir, mas a verdade é que esse cara me fez pensar na quantidade de oportunidades e pessoas que perdemos com nossa falta de desapego. Ele me fez sentir saudade do tempo que tínhamos para falar sobre quaisquer coisas. Estamos tão distantes que você sequer sabe — mas merece saber —. Faz dois meses que comecei a tomar café. 

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